NAVITA NGOLO E JOÃO SOARES ARRASAM “DITADURA” DO MPLA E DE JOÃO LOURENÇO

A mandatária da campanha eleitoral de Adalberto da Costa Júnior (ACJ), Navita Ngolo, tal como a comunidade internacional, incluindo um grupo cada vez maior de membros do PS (Partido Socialista português), “amigo do MPLA” na Internacional Socialista, começa a distanciar-se da “ladainha” de alegada veia reformista e democrática de João Lourenço.

Por Kuiba Afonso e Teresa Chambula Manuel

Todos lhe apontam o dedo de autoritarismo de viés ditatorial e, neste grupo, distingue-se, também, o político português, João Soares, tal como a deputada angolana, com uma visão que arrasa o Presidente da República, depois de ter estado em Luanda, nos primeiros dias de Dezembro de 2021.

A UNITA repetiu o XIII Congresso por “birra jurídico-partidocrata” do Presidente da República, João Lourenço, do líder do MPLA, João Lourenço, e do Tribunal Constitucional (do MPLA), dirigido por uma membro do bureau político do MPLA, Laurinda Cardoso, detentora de dupla nacionalidade (angolana e portuguesa) e sem pergaminhos na magistratura judicial, senão a de colocar na guilhotina, os selectivos “inimigos e adversários” de João Lourenço e do seu MPLA e convidou personalidades estrangeiras, para “in loco” constatarem a sujeira político-judicial.

A mandatária da campanha de Adalberto Costa Júnior, Navita Ngolo, não escondeu, em exclusivo ao F8, a sua satisfação depois da “reeleição” (na realidade, votação, por só ter havido um candidato), com números esmagadores do ex e actual líder da UNITA. “Desde 1966 (ano da fundação), que a UNITA é precursora da democracia! É um dos princípios inscritos no projecto de Muangai e este congresso foi um claro exemplo, pois demonstrou eleições livres, na presença da imprensa”, afiançou, acrescentando: “vamos continuar neste diapasão, pois somos sim os arautos da democracia em Angola e é este o exercício que queremos levar para o país”.

E para que isso seja exequível, não deixou de lançar farpas, à principal organização de suspeição: “Queremos ter uma CNE (Comissão Nacional Eleitoral) que olhe para os desígnios da organização interna e também uma CNE independente, que realmente dirija processos que resultem na vontade soberana do povo”.

Actualmente, é convicção da também secretária provincial do Galo Negro, no Huambo, que apesar e toda a campanha de diabolização, de que têm sido alvos, pelo regime, nos tribunais e comunicação social, diz, continuarem “a defender a liberdade, a democracia e sobretudo a dignidade dos angolanos. A UNITA propõe-se, sobre liderança de ACJ, a olhar para cada angolano, como tendo oportunidades iguais, na terra do seu nascimento, sentindo-se filho, da mesma pátria. A UNITA pretende servir os angolanos e não servir-se do poder”, esclareceu.

De realçar, ter por altura de empossamento, no 05.12.21, Adalberto da Costa Júnior dito: “Esta segunda vitória, no segundo XIII congresso ordinário do Partido, não me pertence. Pertence ao povo angolano, que anseia pela mudança, pela alternância democrática e que anseia pela verdadeira democracia. É a vitória de um projecto democrático, nascido e assumido pela maioria dos militantes do partido”.

O ora líder, que não sabe se será ou não empossado, pelo Presidente da República, como conselheiro do Conselho da República, com a mesma velocidade e urgência, com que o fez a Isaías Samakuva, com o mimo: ”Espero tenha vindo para ficar”, quando tinha um efémero mandato de dois meses, deixou para dentro e fora, outra farpa: “Esta maioria absoluta, que aqui toma forma com esta eleição, repetindo o primeiro XIII congresso de 2019, assume o projecto para todos os angolanos, dentro e fora do Partido. Recebe com agrado todos, mesmo aqueles que pensam diferente, desde que aceitem as directivas democráticas do partido e lutem pelos objectivos fixados”, porque, na sua opinião; “Angolanas e Angolanos chegou a hora da esperança! Esperança numa Angola verdadeiramente democrática e independente! Chegou a hora de abraçarem o desejo de uma vida diferente, melhor, mais digna, mais solidária. Chegou a hora de construirmos uma Angola nova e melhor, sem fome, com escolas, com hospitais e com dignidade para todos os Angolanos”.

E para não ficar com o ónus da culpa, ante o desvario da política actual do país, antecipa-se e lança a bola, em jeito conciliador, para o campo de João Manuel Gonçalves Lourenço, quer na qualidade de seu homologo partidário, como de Presidente da República: “O presente indica-nos que precisamos de ser bem mais criativos para restaurar o diálogo institucional. Nós vamos limpar o passado negativo, de falta de diálogo e tudo faremos para no melhor da nossa tradição africana, nos sentarmos num “Ondjango” com o senhor Presidente da República e falarmos com maturidade dos nossos desafios e passarmos ao país uma mensagem positiva e de incentivo à sã convivência, na diferença”. É uma jogada de mestre, que, seguramente, apanha João Lourenço na contramão.

Recorde-se ter, em Abril de 2021, na qualidade de presidente da UNITA (eleito no XIII congresso de 2019), dito, que em democracias avançadas, os adversários políticos não são inimigos, daí o envio de um pedido de audiência, ao Chefe de Estado, que nunca obteve, sequer resposta.

OBSERVAÇÃO INDEPENDENTE DO PROCESSO

A presidente da Carteira Profissional dos Jornalistas, Luísa Rogério, foi observadora do congresso da UNITA e considerou a experiência com bastante entusiasmo quando recebeu o convite, visto que a função visou “exactamente auferir a lisura e transparência do processo e, aqui, não houve nada que pudesse colocar em causa a credibilidade do processo”.

Na condição de escrutinar os procedimentos estatutários e legais, e “na condição de arguentes solicitamos os regulamentos e constatamos que estava tudo a decorrer segundo os trâmites legais, apesar de ser uma eleição partidária, é importante frisar que é (foi) um acontecimento de extrema relevância para a história de Angola”, argumentou, referindo-se a um congresso que teve a participação de 1400 delegados, vindos das 18 províncias do país e de 10 (dez) observadores independentes (extra UNITA).

A experiente jornalista reafirmou a obrigação e o dever dos órgãos de comunicação social públicos e não só, fazerem coberturas isentas, igualitárias, “independentemente de quem são os actores; a UNITA, o partido no poder, os órgãos de comunicação social sejam eles públicos ou privados, devem exercer com rigor o seu papel”.

E, para concluir, Luísa Rogério deu foco à sua veia jornalística: “Naturalmente, sendo a UNITA o maior partido na oposição, este congresso tem uma dimensão que extrapola os próprios limites estatutários do partido, razão pela qual, eu acho, que merece toda atenção e quando a comunicação social reporta um congresso do partido seja ele qual for, está a fazer nada mais do que cumprir o serviço público, porque os jornalistas independentemente de trabalhar num órgão público ou privado, prestam serviços públicos”.

DEMOCRACIA NO BINÓCULO DITATORIAL

O político português, membro do Partido Socialista e amigo de longa data de Jonas Savimbi e da UNITA, João Soares, convidado para estar presente no XIII congresso, nunca escondeu o seu lado afectivo e nem mesmo quando o acusaram, falsamente, de contrabando de marfim e diamantes, depois da queda de um avião na Jamba, ele tentou disfarçar a relação com o Galo Negro, tanto assim é que deu a um dos seus filhos o nome de Jonas, em sinal da intimidade, que tinha com o líder fundador da UNITA.

“Eu estava na Jamba, na altura, em que caiu o avião, Setembro de 1989, pois estavam, também, a bordo Rui Gomes da Silva (deputado do PSD) e Nogueira de Brito (deputado do CDS). E é uma mentira grosseira e deslavada, alguns políticos e agentes, disseminarem a notícia da queda estar ligada ao transporte de marfim e diamantes. É uma infâmia! Monstruosidade, inventar, num momento de desgraça alheia. Eu, poderia ter tido o mesmo destino, não tivesse chegado atrasado, ao aeroporto, pois estava programado seguir, no mesmo avião”, assegurou, em exclusivo, pela primeira vez, ao F8, o Chefe Indígena, William Tonet.

Questionado se sabia das razões da queda da aeronave, acrescentou: “acredito que o mau tempo e alguma falha humana, estiveram na origem da queda, mas eu, que estive depois, no local, com outras pessoas e jornalistas, não vi(mos), sequer uma unha de marfim ou pedra de diamante, salvo se estivesse nos motores ou caixa preta, mas nem os destroços apresentavam tais vestígios”, concluiu Tonet.

O antigo presidente da Câmara de Lisboa e ex-ministro da Cultura português, que esteve, em Luanda, não só para acompanhar a repetição do XIII Congresso do Galo Negro, como a Angola do “Photoshop” da EURONEWS (contratada por 40 milhões de dólares, para gerir a imagem do executivo, segundo dados dos corredores do poder), ou a cantada por Matias Damásio (sob encomenda milionária do regime), qualquer uma delas, distante da Angola real, aquela onde a fome, o desemprego, a discriminação política, o fim da liberdade de imprensa, a partidocracia da justiça e a perseguição impiedosa aos adversários políticos, campeia, afirmou: “A UNITA tem dado mostras de democracia interna, algo que o partido no poder não sabe o que é”, sendo por isso, “uma tristeza, o rumo de Angola”!

João Barroso Soares afirmou, também, no sábado (4.12.2021), no âmbito da tomada de posse de Adalberto da Costa Júnior, que “a UNITA sempre deu um claro exemplo de congressos democráticos, dando o exemplo dos ocorridos, em 2003, onde Isaías Samakuva foi eleito, pela primeira vez, como presidente da UNITA, concorrendo, com o então coordenador da Comissão Provisória, Paulo Lukamba Gato e Dinho Chingunji, em 2007, o mesmo Samakuva foi reeleito, derrotando Abel Chivukuvuku (abandonou a UNITA, nesse mesmo ano) e, no XI congresso, em 16 de Dezembro de 2011, teve a mais expressiva vitória ao derrotar, por 85,6%, José Pedro Cachiungo, que se quedou com 11% dos votos válidos.

“Este cenário, caracteriza o maior partido da oposição angolana, com verdadeiros democratas, que realizam congressos transparentes”, frisou.

Em sentido contrário, pese o MPLA fazer parte da mesma família internacional do seu partido (a Internacional Socialista), não deixou de lançar uma farpa: “Quando o MPLA fizer um congresso decente, do ponto de vista democrático, talvez possamos acreditar que eles farão, também, a nível do país, eleições livres, justas e transparentes”.

O ex-presidente da Câmara de Lisboa e filho do falecido presidente português, Mário Soares, conta a experiência de observador internacional de eleições, na primeira pessoa: “Eu fiz 40 missões de observações eleitorais, no hemisfério norte: chefiei a missão internacional, que observou as primeiras e segundas eleições do presidente Obama (dos Estados Unidos), integrando deputados de mais de 20 países, incluindo Angola. Portanto, sei distinguir o que é uma eleição, livre, justa e democrática”.

O que indigna, qualquer observador internacional, hoje, no mundo civilizado é a política do actual presidente angolano, distante de qualquer pergaminho democrata, com destaque para a obstrução feita aos partidos da oposição, sem direito ao contraditório, nos órgãos de comunicação social público: “Como é possível o maior partido da oposição não ter cobertura ou notícias, quase nenhumas, nos órgãos de comunicação social públicos? Como é possível desde que o Adalberto da Costa Júnior foi eleito (em 2019) não tenha dado nenhuma grande entrevista? Isto é inaceitável”, denunciou.

Numa clara demonstração da comunidade internacional, incluída a portuguesa, estar, cada vez mais, preocupada com o cheiro nauseabundo de uma espécie de “sodomização”, dos órgãos de soberania, que partidocratamente, investem contra a oposição e a sociedade civil, democrática o político luso, com os olhos postos nas eleições gerais de 2022, questionou: “Como é possível que os cadernos eleitorais sejam feitos, exclusivamente, pela máquina do MPLA, o mesmo partido que está há 46 anos no poder, que controla a Presidência da República, o governo, os tribunais e a Comissão Nacional Eleitoral? Isto não é democrático”!

Sobre o futuro de Angola a visão não é catastrófica, mas envolve o cepticismo: “Angola tem tudo a ganhar com a democracia, mas sem perseguições políticas a oposição”!

Actualmente, segundo, João Soares, a democracia é uma quimera, porquanto nos 46 anos de existência como Estado independente, não existe tradição de respeito pela diferença e pluralidade de opiniões, muito pelo facto de, “o Presidente da República ser do MPLA, o presidente do Tribunal Supremo ser do MPLA, a presidente do Tribunal Constitucional ser do MPLA, o presidente da Comissão Nacional Eleitoral ser do MPLA”.

Artigos Relacionados

Leave a Comment